Não falta criatividade aos criminosos de plantão nos meios digitais. A nova estratégia de golpe é se passar pelo serviço de atendimento de empresas para resolver problemas relatados nas redes sociais ou oferecer vantagens. O verdadeiro objetivo é roubar dados pessoais, dinheiro e até clonar o WhatsApp do consumidor.
Os SACs fake usam, além do nome, a identidade visual das marcas com as quais o consumidor se relaciona. Grandes redes, como Casas Bahia e Renner, já foram alvo da fraude. Mas há relatos de casos envolvendo do restaurante do bairro a bancos digitais.
A psicóloga Bruna Falcão, de 25 anos, recebeu mensagens de dois perfis que se passavam pela área de atendimento da Amazon, logo após postar uma reclamação na rede social oficial da varejista. O fato de os perfis quase não terem seguidores chamou a atenção de Bruna:
— O que mais me decepcionou foi ter denunciado, e o Instagram ter respondido que os perfis não violavam suas diretrizes. Acho um absurdo. Não deveria ser permitida a criação de outros perfis com o nome de lojas que já existem, porque enquanto a rede social não suspende a conta muitas pessoas caem no golpe e são roubadas — queixa-se.
A Amazon informa utilizar apenas canais oficiais para se comunicar com os clientes em redes sociais, como Facebook (@Amazon.com.br), Instagram (@amazonbrasil) e Twitter (@amazonBR). A empresa alerta que nunca solicita informações de acesso, como login e senha.
Já o Instagram ressalta que fingir ser outra pessoa, marca ou negócio viola as diretrizes da plataforma. E informa manter uma equipe dedicada a detectar e impedir esses tipos de golpe, além de encorajar denúncias de contas ou atividades suspeitas.
Falha no SAC oficial
O professor Luis Branco, de 47 anos, foi abordado no Twitter pelo perfil “Meu Pag_Sac”, que se passava pela conta oficial do banco digital Meu Pag!, oferecendo um aumento no limite do cartão.
Munido de algumas informações pessoais do consumidor, o golpista solicitou a confirmação dos dados e pediu para que um código enviado por SMS ao cliente fosse compartilhado:
— Tinha confiança de que se tratava do banco porque tinham vários dados meus. Após algumas diretrizes do que deveria fazer no aplicativo, recebi um SMS e passei um código, então me pediram para desconectar do app para que o limite fosse aumentado.
Ele continua:
- Quando tentei entrar novamente, não consegui. Pedi nova senha e, quando consegui o acesso, já haviam tirado R$ 1.500 da minha conta — conta Branco.
Ele se queixa que a falta de canal de atendimento para falar com o Meu Pag! dificultou o bloqueio do acesso:
— O banco não tem telefone e me atendeu por chat dias depois, mas me disseram que não podiam fazer nada porque eu havia fornecido o código. Só que o dinheiro saiu da conta por meio de uma transferência, e ficaram gravados nome, CPF e telefone de quem recebeu. Também fizeram a recarga de vários telefones celulares através da conta, e os números dos telefones ficaram todos lá.
Reclamação até no Banco Central
O professor registrou um boletim de ocorrência on-line e fez uma reclamação no Banco Central (BC), mas não obteve sucesso.
Procurado, o Meu Pag! assegurou cumprir todas as políticas de sigilo bancário para que as informações dos clientes não sejam usadas por terceiros. O banco disse ainda impedir a realização de operações que fogem do perfil do cliente.
Por último, ressaltou a importância de os consumidores não compartilharem nenhum dado da conta e só usarem os meios oficiais de comunicação — Instagram e Facebook @meupag e app MeuPag!.
Já o Twitter informou que contas que se apresentam como outra pessoa, marca ou organização de maneira confusa ou enganosa poderão ser permanentemente suspensas da rede social. E informou que denúncias podem ser feitas diretamente à plataforma.
Para Pedro Queiroz, diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), órgão do Ministério da Justiça, embora a empresa não tenha responsabilidade pelo golpe, ele acontece por uma falha na comunicação:
— A fraude, de alguma forma, expõe o mau funcionamento do SAC das empresas. Falta agilidade nas respostas, e em muitas o SAC não está claramente identificado na página principal como determina o decreto do e-commerce.
Empresas de olho em redes
Embora considere empresas e consumidores vítimas, Juliana Pereira, presidente do instituto IPS Consumo e ex-secretária Nacional de Defesa do Consumidor, diz que cabe às companhias fortalecerem a informação nas redes sociais sobre os canais reais de atendimento e alertar sobre fraudes:
— O consumidor, quando está nas redes reclamando de um problema, está numa situação de fragilidade, da qual os golpistas se aproveitam. É importante que as empresas ampliem a divulgação dos seus canais e emitam alertas. E denunciem esses casos às autoridades, pois trata-se de crime, que merece investigação e punição dos envolvidos.
Procurada, as Casas Bahia dizem trabalhar com “ferramentas e aplicações para gestão e prevenção de riscos on-line, para garantir um ambiente de compra seguro para seus clientes e para a companhia”.
A rede diz ainda trabalhar com “comunicação ativa sobre como identificar as páginas oficiais das marcas” e que faz o “monitoramento contínuo para a exclusão das páginas falsas nas redes sociais.”
Outro alvo dos fraudadores, a Renner afirma orientar que os consumidores acompanhem os canais oficiais da rede. A empresa diz ainda monitorar postagens que possam trazer conteúdo falso e/ou uso indevido de sua marca, nome comercial etc.
Detectada uma fraude, diz que solicita a suspensão do perfil e adota medidas nos órgãos responsáveis
Veja como se proteger de golpes
Contas públicas
Empresas raramente têm perfis privados, nos quais você precisa de autorização para seguir. Desconfie de negócios cujas contas não são públicas.
Selo de verificação
No caso de grandes companhias, procure o selo de verificação ao lado do nome da empresa. Perfis que representam grandes empresas, organizações ou figuras públicas geralmente são verificados.
Pescaria digital
Desconfie de contas que direcionam você a um site externo ou que pedem dados pessoais, bancários ou compartilhamentos para obter um prêmio ou oferecer uma promoção. Vale verificar a URL (endereço do site) externa.
Denuncie
Anúncios, publicações ou contas que pareçam suspeitos devem ser denunciados às plataformas, assim como às empresas pelas quais estão se passando. Assim, a rede social pode suspender o perfil, e a companhia real tomar providências.
Proteja sua conta
Nunca compartilhe senhas com terceiros. Ative a autenticação de dois fatores (por SMS ou aplicativo) para obter segurança extra para a conta.
Desconfie
Ligue o sinal de alerta em ofertas de produtos, promoções e serviços com preços muito abaixo dos valores médios praticados no mercado